Que ia ser um show de superação a gente já sabia. Mas a cada conquista, uma nova história de coragem se descortinava.

A maior lição que fica destes Jogos Paralímpicos que se encerram hoje é o bom humor e a vontade de viver estampada na determinação de cada atleta, a forma positiva com que encaram a vida.

Em praticamente todas as declarações, um sentimento enorme de gratidão e muitos sorrisos.

Tomamos contato com a história de atletas como a nadadora Susana Ribeiro, com um doença rara degenerativa diagnosticada em 2005 com uma previsão de apenas mais 6 a 8 anos de vida. Já se passaram 11 anos e ela continua conquistando medalhas.

“A minha doença piorou e eu vivo um dia de cada vez. O corpo está parando. Mas digo que a doença escolheu a pessoa errada, porque eu não vou parar não”, disse ela ao receber a medalha de prata no revezamento 4x50m misto.

Conhecemos os irmãos “dourados” Ricardo Costa e Silvânia Costa. Atletas do salto em distância na classe T11 (para atletas totalmente cegos), ambos têm uma degeneração congênita que lhes tirou a visão antes mesmo de se tornarem adultos. Ele conquistou a primeira medalha de ouro para o Brasil nos Jogos do Rio, deixando em segundo lugar um recordista mundial, o americano Lex Gilette. Ela conquistou a sua numa competição disputadíssima que só lhe deu a vitória no último salto. Nem sempre foi tudo assim reluzente na vida dos dois, que no início revezavam os treinamentos porque  tinham que usar  os mesmos materiais, inclusive as sapatilhas.

É Ricardo quem conta: “Fiz da minha deficiência o meu melhor inimigo, que vai me acompanhar por tempo indeterminado. Não coloquei uma dificuldade. Aceitei e, a partir disso, as coisas vieram ao meu favor.”

Das pistas vêm mais dois exemplos: o veterano Yohansson Nascimento, que nasceu sem as duas mãos, e o novato Petrúcio Ferreira, que perdeu parte do braço esquerdo aos 2 anos numa máquina de moer cana. Ambos subiram ao pódio várias vezes nestes Jogos e deram uma demonstração de leveza, alegria e perseverança diante das dificuldades, como disse Petrúcio, ao ganhar a prata na prova dos 400m, depois de ficar em último e dar um arrancar na reta final: “Muitos pensavam que eu não iria chegar. Vim pensando durante a corrida, eu vou chegar, eu vou chegar…”

A vida é feita de escolhas

É também das pistas que fica uma lição com a impressionante história de um atleta brasileiro que era grande esperança de medalhas no Rio. Em 2012, o velocista Alan Fonteles, então com 20 anos, desbancou o astro sul-africano Oscar Pistorius em Londres. Depois deste feito, ele ganhou todas as provas que disputou individualmente no Mundial de 2013, na França. E aí optou por tirar um período sabático, engordou e não conseguiu recuperar sua forma física pra brilhar em casa. Ainda assim, ele veio competir, encarou o fiasco de algumas provas e ajudou o Brasil a conquistar a prata no revezamento 4x100m.

Para muitos, foi uma decepção. Mas Alan sabe que foi uma questão de escolha. Descansar em plena preparação para o ciclo olímpico do Rio foi, com certeza,  uma escolha errada, mas cujo resultado ruim não o abateu: “Como qualquer um, tenho altos e baixos. Infelizmente meu baixo foi em casa, mas estou saindo com uma medalha de prata. Agora é erguer a cabeça que em quatro anos tem Paralimpíada de novo.”

E o que dizer do nadador Daniel Dias? Sempre com um sorriso no rosto, ele nasceu com má formação dos membros superiores e da perna direita e começou a nadar aos 16 anos, após assistir, pela televisão, as conquistas de Clodoaldo Silva em Atenas-2004. Maior medalhista dos Jogos Paralímpicos do Rio, Daniel subiu ao pódio nove vezes (4 ouros, 3 pratas e 2 bronzes) e já coleciona ao todo 24 medalhas paralímpicas em três edições (vale lembrar que Michael Phelps ganhou 28 medalhas olímpicas em cinco Olimpíadas).

Sua mensagem resume o espírito paralímpico, que é também olímpico e serve pra vida também: “A gente nunca deve desistir. Isso eu aprendi com os meus pais e tento transmitir através do esporte. Eu acredito que a força está dentro de cada um de nós. Basta a gente ir em busca do que a gente sonha. Todos nós temos sonhos. A gente tem que amar o que faz”.

Os exemplos são inúmeros e não são só brasileiros. Fundamental é perceber que todos estes atletas paralímpicos assumiram o protagonismo de suas vidas, recusando o papel de coitadinhos e vítimas. Mais do que provar que são tão capazes quanto qualquer pessoa, sua grande contribuição é revelar a todos nós o quanto reclamamos exageradamente sem qualquer motivo e até por nada.

E principalmente demonstrar que todos podemos ter Alta Performance de Vida. Desde que deixemos brilhar a nossa luz interior, aprendendo a acessar todos os recursos que já existem em potência em nós para termos uma vida cada vez mais plena e feliz.

E você? Que papel assume diante das circunstâncias da sua vida?

Daniella Wagner