Em 2010, acompanhei o drama dos 33 mineiros soterrados em um acidente na mina de San José, no deserto de Atacama, no Chile, no dia 5 de agosto. Lembro-me que ao ler sobre a tragédia senti uma agonia imensa e me angustiou a ideia de uma prisão a mais de 700 metros de profundidade, um confinamento sem luz do sol, uma espécie de tumba para 33 homens vivos, mais ainda ante a perspectiva de um resgate “antes das festas natalinas”, como anunciaram as autoridades assim que conseguiram contato com eles. Isto significava longos quatro meses.
Devido ao esforço que se seguiu por parte do governo chileno que, pressionado pelas famílias e também pela mídia, buscou ajuda de inúmeros especialistas internacionais, os mineiros acabaram sendo salvos em 13 de outubro. Recordo-me que assisti ao vivo pela TV o resgate, que levou cerca de 24 horas, destes valorosos homens, conduzidos um por um numa cápsula onde se lia a palavra Fênix.
Na época, escrevi sobre isto para o blog Los Insistentes, a revista eletrônica dos alunos do Instituto Cervantes do Rio de Janeiro, publicada em espanhol e da qual muito me orgulho de ter feito parte do grupo fundador e da qual fui coordenadora editorial nos seus dois primeiros anos.
E por que estou escrevendo novamente sobre isso agora? Porque aproveitei o carnaval para colocar em dia alguns filmes que há muito queria ver e me deparei justamente como Os 33, uma produção de 2015 dirigida pela cineasta Patrícia Riggen, com Juliete Binoche, Antonio Banderas e Rodrigo Santoro. Foi uma bela surpresa revisitar esta história como uma nova visão, substituindo o olhar da jornalista pelo olhar da coach.
Elementos de coaching – Desde o início, quando o desespero começa a tomar conta do grupo diante das piores perspectivas _ considerando que a única saída da mina estava bloqueada pelo desmoronamento provocado pela negligência da empresa dona da mina _, um dos homens se nega a acreditar que é o fim e assume uma liderança natural para administrar a pouca comida que tem para ser racionada, cabendo uma colher de chá de atum em conserva para cada um deles a cada três dias.
É este mineiro que busca manter a união do grupo, dissipa conflitos e tensões. Mostra também empatia quando um deles, desesperado, pensa em desistir e se matar, conseguindo assim demovê-lo da ideia.
O filme é um belo exemplo de como gerir emoções, principalmente, em situações tão extremas. Cada integrante do grupo tem a sua importância, uns tomando à frente da situação, outros simplesmente colaborando entre si; um deles, mais religioso, buscando manter a fé e a crença de que seriam salvos, e o chefe do turno que, cumprindo seu dever, foi o último a sair. Enfim, um verdadeiro trabalho em equipe, em condições muito adversas, fazendo com que os 33 enfrentassem 69 difíceis dias com muita resiliência, termo usado pela psicologia para descrever a capacidade humana de assumir com flexibilidade situações limites e sobrepor-se a elas.
Recomendo que assista, sem susto, até porque sabemos do final feliz em que todos são resgatados com vida e isso, por si só, já é um grande alento, embora os 33 mineiros jamais tenham sido indenizados nem a empresa proprietária da mina tenha sido responsabilizada pelo acidente. Impossível, neste meu novo olhar, não identificar na liderança, na empatia, na fé, na perseverança, na motivação, na gestão das emoções e na resiliência diversos elementos de um processo de coaching, ainda que não tenha sido assim chamado. Sem dúvida, um processo de coaching a 700 metros de profundidade.
Principalmente, diante de um imprevisto no final, quando um erro de cálculo põe quase tudo a perder, os próprios mineiros decidem entrar em ação e fazer a parte deles, recusando-se a abraçar a postura de vítimas, tomando nas mãos as rédeas do seus próprios destinos e colaborando para o bem-sucedido resgate. Mais coaching na veia impossível!
Caso queira ler o texto que escrevi na época acesse o link Tecnología y fe en el rescate de los chilenos
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